sexta-feira, junho 05, 2015

Aborrescência

Meu filho está se tornando um adolescente. É um fenômeno observado por mim com curiosidade e um pouco de raiva - pra começar, não tenho estrutura psicológica pra ter um filho adolescente e maior que eu. Mas enfim. A vida joga no colo, tem que segurar.
Outra coisa que me dá um pouco de raiva é porque adolescentes são, em sua essência, IRRITANTES.
Nada tá bom, tudo tá errado, tudo eu nessa casa, vou usar essa calça porque eu quero, etc etc etc
Não que eu também não tenha sido irritante quando adolescente, todo mundo é.
Lembro que tinha fases: às vezes, sentava com minha mãe na sala de casa e ficava fazendo palavras cruzadas por um tempão, super de boa. Na outra semana, aquele era o programa mais chato do mundo e eu queria mesmo era sair com minhas amigas e ir naquela festa que todo mundo foi mas eu não fui, porque eu não sou todo mundo.
Às vezes ia feliz e contente pras festas de família, às vezes no mesmo dia tinha um cinema com a turma e eu ficava louca da vida, mas não podia reclamar porque não tinha mesmo dinheiro pra pagar o cinema e quando pedia recebia a importante informação de que dinheiro não nasce em árvore.
Às vezes estudava com a tv e o rádio ligados, cantando em voz alta e com a luz acesa mesmo de dia porque sempre enxerguei mal, mas aí tomava bronca porque convenhamos, ninguém em casa era  sócio da Light.
Então ia tomar um banho pra desestressar e bem no meio da entrega do Oscar (quem se lembra da comunidade "Eu recebo prêmios no banho" do Orkut? Bons tempos); rolava aquele escândalo quase derrubando a porta do banheiro, porque afinal já tava lá dentro com o chuveiro ligado há 15 minutos, que absurdo era esse, ameaças de desligar a luz da casa toda - algumas vezes cumpridas.
Aconteceram alguns corações partidos e fins de namoros que eram pra vida toda, e eu me indignava com os conselhos do tipo "ah, isso passa, você é tão nova, nem sabe o que é o amor".
Aconteceram algumas punhaladas de "amigas" e eu achava que era o fim do mundo, enquanto recebia aquele olhar de dó e a resposta pronta "eu nunca gostei dela" - e poxa life, era verdade.
Passava as tardes assistindo MTV embalada por Jon Bon Jovi. E escutava que aquilo não era música de verdade.
Me vestia como uma garota da minha idade. E ganhava muitos narizes torcidos.
Enfim, fui uma adolescente, nem melhor nem pior que tantas outras da minha idade, mas com certeza muito irritante pra minha mãe. E como a vida é um ciclo que nunca acaba, agora é minha vez de lidar com tudo isso, e - SURPRESA! - minhas reações, frases e conselhos são tão parecidos com os da minha mãe que se naquela época eu tivesse gravado o que ela falava (em fitas cassete, claro); hoje reproduziria cada palavra perfeitamente.
Claro que ainda sou uma mãe moderna, pouca diferença de idade, liberal até certo ponto, com o mesmo gosto por filmes de terror, Doctor Who e pipoca, mas ainda sou mãe, né?
Então se toca aí que eu sei o que é melhor pra você. E não responde pra mim!!!!

quinta-feira, maio 14, 2015

Que frio, taqueopariu

Tenho ojeriza ao frio. Sou uma pessoa do sol, do calor, temperatura amena pra mim não dá.
Sem contar que tudo, absolutamente TUDO no frio é mais difícil!
Quer ver?

1. Sono
O sono é um capítulo todo especial no frio. Começa pela necessidade de 5 cobertores, 2 edredons e aquele pijama que você morre de vergonha de admitir que tem, mas se convence que é "o único que realmente esquenta no frio"!

Tá lindo, tá sleep-fashion!

Deitar pra dormir é uma tortura. A cama está gelada, e qualquer mexidinha de corpo abre uma fresta entre os cobertores por onde entra o que só pode ser descrito como a brisa polar.
Vira daqui, vira dali, você finalmente encontra uma posição perfeita, se aconchega e dorme.
Aí o inferno é acordar. O despertador toca e já vem aquela certeza: está frio fora desse reino de conforto. E agora, como lidar? E a água fria na cara pra acordar? Pelo menos dizem que contrai os poros - você está congelada, mas repara que pele incrível!!!

2. Banho:
Tirando quem mora em São Paulo - que tá sem água mesmo e tem que se virar na canequinha, o que já é sofrimento até no verão - o banho é um dos momentos mais cruciais na vida de quem está enfrentando o inverno do lado de cá da Muralha.
Entrar no banho é difícil, exige a abertura do chuveiro cerca de 10 minutos antes, em temperatura de vulcão, para esquentar o banheiro com aquele vapor de filme de terror. Só depois de garantir esse clima londrino é que a pessoa consegue finalmente tirar a roupa.
Uma vez debaixo do chuveiro, tudo é festa, tudo é alegria. Até o momento em que você tem que SAIR. Parece que o vapor se extingue quase que imediatamente, e o frio volta a dominar sua vida. A ida do banheiro até o quarto, só de toalha, é um capítulo à parte que nem vale a pena mencionar.


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3. Comida:
Nenhuma época do ano é tão favorável à gordice do que o frio. A parte de saladas no menu fica mais esquecida que ex-BBB que saiu na primeira semana.
A desculpa é que nosso metabolismo desacelera, então naturalmente tendemos a escolher comidas com maior teor calórico, para enfrentar o longo e tenebroso inverno.
E dá-lhe batata frita, pizza, lasanha, fondue, chocolate, pipoca com manteiga, sopa, caldo, chocolate, vinho quente, choconhaque, quentão, polenta, chocolate, chocolate e chocolate.
Não é à toa que quando chega a primavera as academias lotam com o povo do "Projeto Verão". Pra mim, particularmente, o "Verão" é de "Me Verão No Bar Assim Que o Calor Começar".

4. Tarefas domésticas:
A única tarefa doméstica legal de fazer no frio é passar roupa. E mesmo assim é uma das coisas mais sacais de se fazer em casa, ou seja, custo-benefício nulo.
Mas o frio é a época do ano em que eu me me pego pensando que a ecologia tem mais que ir à merda e vou adotar pratos, copos e talheres descartáveis. Aliás, panelas descartáveis também.
Aliás, roupas descartáveis também.
E que tal um banheiro auto-limpante? Carro auto-limpante? Cachorro auto-limpante?

Tá fácil

5.  Sair de casa
Sair de casa no calor é muito fácil. Você provavelmente estava com o ventilador ligado, então é só colocar aquele Ray-ban, pegar a garrafinha de água gelada e sijogar.
No frio, você tem que sair duas ou três vezes para se aclimatar com a sensação térmica, o que não vai te salvar de sofrer ou o efeito cebola (ir tirando camadas e mais camadas de roupa durante o dia), ou passar frio porque acreditou na bendita previsão do tempo, mas só olhou a parte onde estava "máxima de 25º".
Se você vai trabalhar de ônibus, tenha uma certeza: todas as janelas estarão lacradas, criando aquele microclima gostosinho de proteção do frio - poréééééém com o ar carregado de vírus da gripe que pelo menos um fdp tá carregando.
Sair pra curtir a night (#GíriasIdosas) é outra coisa complicada. Você se pega ponderando se vale mesmo a pena tirar o pijama e a pantufa pra sair e passar frio. Ou se não é melhor chamar os amigos, fazer um fondue, abrir um bom vinho e ficar perto da lareira. Ou, caso você seja pobre, chamar os amigos, fazer um caldo de mocotó, abrir uma garrafa de pinga pra fazer quentão e ficar tremendo, mas em boa companhia, pelo menos.

6. Sexo:
Nada do que foi dito até agora - repito: NADA! - se compara à dificuldade que é faser céquiço no frio. Preliminares? Que que é isso? Com essa mão gelada? Nem pensar!!! Não rola ir tirando a roupa aos poucos, tem que entrar debaixo do cobertor vestido e só então tirar. E sem movimentos bruscos: lembra da fresta no cobertor e a brisa polar? Pois é, na hora do vamovê, não tem como curtir se alguma parte do corpo está sendo congelada. Claro que com o tempo e o embalo da coisa toda a tendência é que os corpos em atrito acabem gerando calor, mas até chegar nessa parte... Quero ver um dos dois ter coragem de pedir pro outro: "Amor, tira a meia?"

domingo, abril 12, 2015

Lista de desejos

Querer...
Queria uma vida mais simples, menos corrida, mais tranquila.
Queria um carro - e uma viagem de carro sem destino certo.
Queria que a gasolina fosse mais barata.
Queria que tudo fosse mais barato.
Queria ganhar mais - se bem que, se tudo fosse mais barato, nem precisaria.
Queria uma assinatura vitalícia da Netflix - e tempo livre pra assistir tudo que eu quiser.
Queria tempo livre.
Queria tempo.
Queria ter certeza absoluta que meu filho vai estar sempre bem.
Queria poder dar pro meu filho tudo que eu não tive, e mais.
Queria poder colocar em palavras o amor que eu sinto por ele.
Queria mais um filho - ou filha. Adotar é amor.
Queria uma torneira de cerveja em casa.
Queria um freezer cheio de sorvete.
Queria um suprimento infinito de queijo.
Queria pizza todo dia.
Queria que nada disso engordasse.
Queria não me preocupar com meu peso.
Queria fazer academia.
Queria ser dona de uma academia só pra poder me exercitar depois que todo mundo for embora.
Queria não ser antissocial com gente que eu nem conheço.
Queria não ser tão grossa com gente que eu conheço.
Queria ter mais papas na língua e guardar um pouco mais o que eu penso.
Queria que as pessoas pensassem como eu, mas só um pouquinho, pra ainda haver debate de ideias.
Queria a volta de Friends.
Queria reprise dos Trapalhões com o Mussum e o Zacarias.
Queria programação de qualidade na tv aberta.
Queria não me divertir tanto com notícias sobre subcelebridades.
Queria assistir Titanic e chorar quando o Jack morre, e não quando o menininho italiano e o pai são atingidos por uma onda enorme.
Queria não ser tão diferente.
Queria ser mais normal.
Queria parar de fumar.
Queria ter mais paciência e menos ansiedade.
Queria visitar meus amigos chilenos, meus amigos baianos, minha amiga na Irlanda.
Queria uma grande viagem de férias por ano.
Queria que a feira durasse até mais tarde no domingo, porque domingo NÃO É dia de acordar cedo.
Queria dormir mais.
Queria uma cozinha auto-limpante.
Queria uma casa, um carro, um cachorro auto-limpantes.
Queria um labrador.
Queria uma família de labradores.
Queria me entender melhor com minha família.
Queria apagar as coisas ruins do passado e deixar só as lições que aprendi, sem saber direito de onde vieram.
Queria morar numa casa enorme com todos os meus amigos.
Queria mais momentos sozinha.
Queria ler mais jornal e menos a saga Harry Potter.
Queria uma massagem nos pés, nos ombros, na alma.
Queria não sentir tristeza.
Queria que tudo se resolvesse num passe de mágica, ao estilo Harry Potter.
Queria ler os clássicos, assistir os clássicos, ouvir os clássicos.
Queria uma piscina.
Queria que o verão durasse o ano inteiro.
Queria que as pessoas não jogassem lixo nas ruas.
Queria que as pessoas se colocassem mais no lugar do outro.
Queria ter o coração em paz.
Queria uma lista de desejos menor, mais prática e menos sonhadora.
Quero nunca deixar de sonhar.

sexta-feira, abril 10, 2015

Nostalgia

Não importa o quanto sua vida seja boa, feliz e próspera. Você sempre vai olhar pra trás e ter saudades de alguma coisa. Que seja uma roupa, um corte de cabelo, uma época, uma música, um amor, um amigo.
Essa é a saudade que mais dói, a dos amigos. Porque você pode justificar de todas as formas - "ele mudou pra longe", "ela casou e teve filho", "eu trabalho muito" - não adianta, baby. Aquela dorzinha de saudade, e de culpa também, sempre estará lá. Por que você deixou aquela pessoa tão importante pra trás? Como assim você está sobrevivendo sem mil telefonemas ao dia entre vocês? Como assim vocês não se vêem há anos? Como assiiiiiiiiiim???
A verdade é que a vida adulta cobra demais da gente. Passamos a adolescência inteira querendo ser 'de maior', fazendo mil planos, construindo nossos castelos que só o tempo dirá se são de areia ou não.
Mas o tempo passa, o tempo voa...
E você não vê passar. Quando se dá conta, já são anos sem falar com aquela pessoa que tem um espaço tão grande no seu coração. Você se consola - "meu amigo vai bem, grazadeus' -, mas a saudade... Ah, a saudade ainda dói. Sempre vai doer. Acostume-se ou faça algo a respeito.
Essa semana, em um grupo do Facebook, vi fotos minhas da adolescência que eu nem sabia que existiam. Anos e anos da minha história passaram diante dos meus olhos. Na minha cabeça, além das conclusões óbvias - "poxa, eu era magra" -, também me passou uma conclusão muito dolorida: deixei passar tempo demais pra rever os velhos amigos. Eles ficaram na lembrança, com muito carinho, claro, mas só na lembrança.
Senti saudades do burburinho de cada dia, das fofocas, das brincadeiras, dos apelidos, dos problemas que pareciam imensos, dos amores que pareciam eternos, das brigas que pareciam insolúveis, dos dramas que hoje soam bobos demais pra acreditar que um dia os levei a sério. Mas isso é crescer: dar importância ao que no fundo realmente importa, aprender a separar o joio do trigo, valorizar o que temos hoje, antes que se torne uma mera lembrança...
É preciso reviver nossa própria história de vez em quando. Sair da concha e fazer aquele reconhecimento de terreno. E quem melhor pra caminhar ao nosso lado do que as pessoas que um dia trilharam o mesmo caminho que nós? Se tem um conselho que eu posso dar, é esse: deixe a nostalgia entrar. Reencontre velhos amigos, relembre histórias, chore, ria, reata laços gastos pelo tempo... Você só tem a ganhar.