quarta-feira, novembro 18, 2009

A Mulher da Página 194

Recebi por e-mail e não podia deixar passar, já que não comentei sobre o assunto quando virou notícia. Anyway, é velha, mas é pertinente!

A Mulher da Página 194








Texto: Martha Medeiros

Ela é loira e linda. Tem 20 anos. Modelo profissional. Saiu na última edição da revista americana Glamour ilustrando uma reportagem sobre autoimagem, e foi o que bastou para causar um rebuliço nos Estados Unidos. A revista recebeu milhares de cartas e e-mails. Razão: a barriga saliente da moça. Teor das mensagens: alívio. Uma mulher com um corpo real.

Não sei se Lizzie Miller, que ficou conhecida como a mulher da página 194, já teve filhos, mas é pouco provável, devido à idade que tem.
No entanto, quem já teve filhos conhece bem aquela dobrinha que se forma ao sentar. E mesmo quem não teve conhece também, bastando para isso pesar um pouco mais do que 48 quilos, que é o que a maioria das tops pesa. Lizzie não é um varapau - atua no mercado das modelos "plus size", ou seja, de tamanhos grandes. Veste manequim 42, um insulto ao mundo das anoréxicas.

A foto me despertou sentimentos contraditórios. Por mais que estejamos saturados dessa falsa imagem de perfeição feminina que as revistas promovem, há que se admitir: barriga é um troço deselegante. É falso dizer que protuberâncias podem ser charmosas. Não são.

Só que toda mulher possui a sua e isso não é crime, caso contrário, seríamos todas colegas de penitenciária. Sem photoshop, na beira da praia, quase ninguém tem corpaço, a não ser que estejamos nos referindo a volume Se estivermos falando de silhueta de ninfa, perceba: são três ou quatro entre centenas. E, nesse aspecto, a foto de Lizzie Miller serve como uma espécie de alforria. Principalmente porque ela não causa repulsa, ao contrário, ela desperta uma forte atração que não vem do seu abdômen, e sim do seu semblante extremamente saudável. É saúde o que essa moça vende, e não ilusão.

Um generoso sorriso, dentes bem cuidados, cabelos limpos, segurança, satisfação consigo próprio, inteligência e bom humor: é isso que torna um homem ou uma mulher bonitos. Aquelas meninas magérrimas que ilustram editoriais de moda, quase sempre com cara de quem comeu e não gostou (ou de quem não comeu, mas gostaria), são apenas isso: magérrimas. Não parecem pessoas felizes. Lizzie Miller dá a impressão de ser uma mulher radiante, e se isso não é sedutor, então rasgo o diploma de Psicologia que não tenho. Ela merecia estar na primeira página, mas, mesmo tendo sido publicada na 194, roubou a cena.

Que reação a foto causou em você? Repúdio ou alívio?


A verdade é que todas nós somos obrigadas a buscar um ideal de perfeição que não combina com a vida real... A mulher perfeita trabalha (e é muito bem-sucedida); cuida dos filhos e marido (opa! Se AINDA não tem filhos, não está realizada, se não tem marido, namorado, companheiro ou coisa que o valha - se é que ter alguém só por ter vale alguma coisa - é frustrada); cuida pessoalmente da decoração e administração da casa; cozinha que é uma maravilha; é uma verdadeira pantera na cama; malha e cuida da alimentação; se veste bem; conhece todos os assuntos em voga nos jornais; não se abala com o fim de seus relacionamentos - ela é auto-suficiente; arranja tempo para cuidar de sua espiritualidade; controla de forma racional a TPM - isso quando tem; tem sempre tempo para as amigas e seus infortúnios; é o alicerce da família... é, enfim, excelente em tudo que faz ou tem.

Agora me digam: alguém conhece essa mulher? Eu não conheço. Todas as mulheres que eu conheço têm defeitos, sejam físicos, sejam características próprias que fazem parte da pessoa, ainda que possam ser trabalhadas. Olhem em volta e me digam: quantas mulheres com manequim 38 vocês vêem? Quantas vão todos os dias à academia? Quantas não se rendem com prazer - e um pouquinho de culpa - a uma bela fatia de torta de chocolate? Quantas nunca 'rodaram a baiana' num momento de stress? Quantas não choraram copiosamente o final de um relacionamento? Quantas conseguem chegar ao fim do mês com saldo azul no banco?

É... deixa pra lá, ao invés de buscar a perfeição, é muito mais gratificante aceitar suas próprias características (os deuses da perfeição que me desculpem, mas eu não consigo chamar de defeitos): a barriguinha saliente, o apelido de 'nervosinha', o cabelo cacheado, as sardas na pele, a TPM inevitável! Assim, fica muito mais fácil ser feliz e exibir o mesmo sorriso de Lizzie Miller, que eu não sei quanto a vocês, mas é minha mais nova ídola - e modelo de beleza.