sexta-feira, junho 17, 2011

Eu manipulo, tu manipulas...

"Manipulação" é uma palavra muito feia - a menos que venha precedida de "Farmácia de". Ninguém gosta de admitir que é manipulador, todo mundo prefere usar a expressão "jogar charme". A verdade é que, uma vez ou outra na vida, todo mundo já manipulou alguém. Seja sua mãe, quando você se fingiu de doente para faltar na escola (Ferris Bueller RULEIA), seja seu irmão, que você infernizou pra conseguir algo emprestado, seja o chefe, quando você diz que chegou atrasado porque o ônibus atrasou, seja o namorado, quando você faz cara de coitada e diz "tudo bem, amor, pode ir jogar seu futebol que eu fico aqui sozinha..."
Pode chamar como quiser: chantagem emocional, joguinho, etc etc... é a boa e velha manipulação de outrem visando vantagens próprias. Até aí, nada de mal. Sua mãe provavelmente sabia que você estava mentindo (mãe sempre sabe os podres que o filho tem, ainda que algumas prefiram fingir que não veem). Seu irmão também pode ter supervalorizado o que você queria emprestado pra cobrar favores depois. Seu chefe também deve estar de saco cheio do trânsito e não quer mais um problema enchendo a cabeça dele - se a sua vai acabar rolando, é problema seu. E seu namorado (ou namorada, me contaram que tem uns caras lendo esse blog - MEDO) também sabe que o que você está fazendo o famoso doce. No problem, right?
Nesses casos não tem problema mesmo. O problema começa quando você mexe DE VERDADE com o outro. Usa, tira vantagem, mexe com sentimentos, certezas, 'dá e toma', insinua sem dizer. Enlouquecer alguém com esse tipo de atitude não é demonstração de poder, nem de inteligência, nem de estratégia. É pura e simples sordidez. Sabe aquelas coisas que trazem 'bad karma'? Seduzir pra ter vantagem - sejam elas quais forem - é uma delas.
Há que se dar o braço a torcer: envolver os outros requer charme e conhecimento de psicologia. Não é difícil, principalmente se o manipulador tiver o talento de identificar rápida e eficientemente quem pode trazer ganhos para ele. E aí mora o problema: são justamente as pessoas mais frágeis, com maior abertura a esse jogo de sedução, que caem na armadilha... e se ferram.
Não são necessárias juras de amor: basta aquele olhar agradecido depois de desabafar por quatro horas seguidas com o coitado que quer ficar com você, mas acaba ouvindo você reclamar do ex "porque melhor ter você como amiga do que não ter at all". As vantagens também não precisam ser explícitas: basta perceber aquele olhar ciumento do ex enquanto você conversa com o 'amigão'. E claro, o amigão vai embora sozinho, enquanto você, feliz por ganhar mais essa rodada, vai embora... com o ex.
Também não precisa esperar que o primeiro passo venha do outro: o manipulador é, acima de tudo, paciente. Pinga pequenas gotas de presença na vida do outro, aos poucos, insistentemente, até que se torna parte do dia-a-dia dele. E quando o outro vê, xi... já era, mano. Até se tocar da intoxicação de que foi vítima, pode ter feito muita merda.
Claro que às vezes o reconhecimento da vítima falha, e a "presa" não é tão fraca assim. Mesmo os mais fortes podem não desabar, mas se se abalam um pouquinho que seja já é um ponto pro adversário.
E tem mesmo que ser assim? A vida não é um tabuleiro de War, minha gente!!
E há algo a ser levado em conta: o TEMPO. Um dia as máscaras caem. Ninguém sustenta tantos joguinhos, tantas meias-verdades, tantos malabares ao mesmo tempo. De repente as pessoas ao seu redor começam a perceber. Pedem conselho para um amigo que reconhece os sinais e avisa "É uma cilada, Bino!" Comentam entre si, e duas pessoas com as quais você usou os mesmos estratagemas pdoem se encontrar na fila do café. As pessoas percebem semelhanças e discrepâncias de comportamento que denunciam o verdadeiro caráter - ou ainda a falta de - do manipulador. E aí vem a parte triste: o manipulador acaba sozinho. Ou pior, encontra alguém que seja ainda melhor nesse joguinho - e o feitiço vira contra o feiticeiro. Chato, né? Mas você bem que mereceu a lição.